terça-feira, 4 de novembro de 2008

ELÃ PECÚLIO - O detetive que enxergava a alma.

Primeiro Caso -
Torre de Babel (PARTE IV)

A esta altura, a Rua Pero Vaz de Caminha em peso via a ambulância ir embora levando consigo a “adorável” menina, a quem muitos dos mais velhos, conheciam desde o nascimento.

Daquele dia em diante, coisas horrorosas seriam ditas sobre a moça, os boatos mais comuns envolveriam uso de drogas; comentar-se-ia acerca de supostos abusos sexuais; possíveis pactos com o diabo; TPM estilo “O Exorcista”; experimentos científicos que levariam-na a transformar-se num monstro verde e anabolizado com o intelecto de uma ervilha cujo prazo excedera a validade; conspirações alienígenas ligadas ao caso Varginha, et cetera e afins. Fatalmente, a verdade seria única coisa de que ninguém suspeitaria, e no entanto, Elã tinha como descobri-la. Sim, ele o faria, estava disposto salvar Alice de seu inferno pessoal, ainda que para isso, fosse preciso precipitar-se no mesmo abismo em que ela estava, sozinha na vastidão tempestuosa de sua alma.

“Já é hora”, murmurou o moço com seus botões, observando o veículo sumir à distância numa curva qualquer, levando consigo Alice, um mistério a ser resolvido e o ensurdecedor barulho da sirene, depois, o único ruído que restara, provinha dos grilos e dos prantos de uma mãe em desespero, nenhum visinho ousou dirigir-lhe a palavra. “Já é hora... Hora de despertar para o meu destino e assim fazer do mundo um lugar melhor. Quer pelo vôo de anjo ou no rastejar de um demônio, decifrarei este enigma, ou não me chamo Elã Pecúlio”.

ELÃ PECÚLIO - O detetive que enxergava a alma.

Primeiro Caso -
Torre de Babel (PARTE III)

De repente, a mãe de Alice que desejando não assistir o prelúdio do encarceramento de sua filha única numa instituição cujo estigma invocava emoções de vergonha e sofrimento, nem tanto para o doente, mas para quem tem vínculos com este, saiu para o lado de fora desacompanhada do pai que ainda não tornara do golpe recebido da filha enquanto tentava explica o motivo de ter ligado para um manicômio. A senhora, chamada Berenice, emudecida balbuciava fragmentos de frases ininteligíveis em direção à filha que estava de costas, Alice não ouvia nada, vagava perdida em algum lugar dentro de si, a mãe, por sua vez, não conseguia falar mais alto, posto que embora quisesse, tinha muito medo de que a filha escutasse, coisa que inevitavelmente ocasionaria numa nova troca de olhares com aquele semblante transtornado que ela jamais vira num rosto humano, que dirá, em sua prole.

Sorrateiramente, os três encarregados de subjugar a moça cercaram-na de modo que ela não pudesse dar conta dos três ao mesmo tempo. Destarte, o primeiro que tocou o chão foi o motorista, vítima de um sopapo tão hediondo que lhe havia rasgado da cartilagem nasal deixando exposta a estrutura interna do nariz, amiúde, o “pau da venta”. O segundo teve pior sorte, devido à cognição sonolenta dos que despertam pela metade, aquele há um minuto jazia inconsciente, retornara a mesma situação, com o agravante de que agora, do olho esquerdo entreaberto descia misturada numa lágrima, uma fina gota vermelha, oriunda dos vasos sanguíneos despedaçados pelo punho direito da infeliz. Aproveitando-se da sorte de ter sido deixado por último, e lógico, da injeção de efeito paralisante muscular que escondera nas costas da mão, o terceiro conseguiu rapidamente acertar a nádega da garota que caiu imediatamente debatendo-se em convulsões. Demorou pelo menos uns quinze minutos até que o motorista despertasse gritando de dor, quanto ao outro enfermeiro, não esperaram que este abrisse os olhos, puseram ambos, ele e a menina, em macas, e disparam feito bala para o manicômio.

ELÃ PECÚLIO - O detetive que enxergava a alma.

Primeiro Caso -
Torre de Babel (PARTE II)

A moça que surtara a ponto dos pais terem se visto obrigados a ligar para o manicômio solicitando auxílio urgente, não tinha até então em seu histórico médico qualquer tipo diagnóstico anterior que apontasse, ou no mínimo, suspeitasse da presença de qualquer distúrbio psíquico maior do que uma leve tendência à depressão. Todavia, lá estava ela, fazendo com que os mais facilmente impressionáveis, acreditassem piamente que aquilo de fato se trava de um genuíno caso de possessão demoníaca.

“Alice, é Alice...? Não pode ser”, diziam alguns sussurrando em voz alta, tendo o volume amplificado pela madrugada, “Alice...” pensou consigo Elã atrevendo-se a aproximar um pouco mais do que os outros, “nome propício, Lewis Carroll quem o diga”. Já falaremos dele. Por hora, importa-nos apenas Alice e mais ninguém.

Nenhuma debutante conseguiria em circunstâncias normais resistir à força do braço de um enfermeiro de manicômio, comumente pré-selecionados, um tanto pela sua formação e dois tantos pela massa muscular. Ali, porém, um jazia desacordado devido a uma pancada certeira entre os olhos, o outro se erguia letárgico, há muito custo, sem compreender que tipo de insanidade concedia tal capacidade a uma figura franzina, de baixa estatura e habituada ao ócio de uma vida virtual, mais da metade do dia, ela passava diante do computador, a outra metade, passava também quando lhe faltavam compromissos.

Antes de tentar reincidir em imobilizar a “frágil” criatura que ajoelhada punha-se a choramingar, o homem que se levantara aturdido, voltou-se para o que desmaiara e buscou reanimá-lo. Quando conseguiu trazer o companheiro de volta à consciência, vociferou contra o motorista que se negava a auxiliar na captura da paciente, tamanho era o pavor que lhe congelara os ossos. Somente quando fora ameaçado de perder o emprego, que relutante posicionou-se junto aos colegas.

ELÃ PECÚLIO - O detetive que enxergava a alma

Primeiro Caso -
Torre de Babel (PARTE I)
Prólogo

Gritos aliados a barulho de luta corporal, ossos quebrando e corpos sendo subjugados ao chão, estatelando-se em baques secos contra o cimento de uma calçada. Foi isso que a vizinhança escutou durante a madrugada de sete de outubro de 2008 na pacata Rua Pero Vaz de Caminha. Dos poucos que se atreveram a sair, considerando o quão discretos eram os moradores daquele lugar em especial, do qual, poderíamos dizer situar-se na periferia do subúrbio, conseguiram enxergar bastante além dos que apenas afastaram a persiana, contudo, pouco ou nada entenderam da cena absurda que se desenrolava diante de seus olhos.

A ambulância estacionada mantinha sirene e motor ligados, curiosamente, dava refúgio ao motorista fardado que se escondia atrás de uma das portas traseiras, ele devia estar encarregado de fechá-las à passagem do pobre diabo, ou melhor dizendo, diaba, que vieram buscar, porém, o medo não lhe possibilitava movimento algum, apenas os olhos atônitos tentavam focalizar com a significativa dificuldade imposta pelo horror irracional que se lhe apoderava, a figura feminina que semelhante aos mais violentos demônios mitológicos, ainda rancorosos por conta da queda ao inferno, arremessava os enfermeiros mais fortes designados àquele tipo de emergência como que estes mal passassem de bonecas de trapo. Ela gritava e urrava para a escuridão celeste ao mesmo tempo em que chorava amargamente pedindo que a deixassem em paz.

De longe, o espetáculo já parecia intrigante, mas para um estranho jovem que se unira a multidão, provavelmente pelo fato de ter facilidade em identificar-se com eventos e pessoas ditas estranhas, o fato em questão, significava mais do que infortúnio de alguém, tal desventura representava a oportunidade que ele tanto desejava, mas que por comodismo ou mera preguiça, nunca se dera ao trabalho de procurar.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Fortaleza

Fortaleza linda como o sol.