segunda-feira, 6 de setembro de 2010

SÚBITA PAISAGEM

O sol começa a se pôr dentro da paisagem que a vista alcança.
Uma luz alaranjada vai contornando a silueta escura de quem aguarda o ocaso do dia, o fim de uma tarde que começou com despedidas.
Parti do exato ponto de onde as coisas deveriam estar para que eu compreendesse o sentimento de pertença que nos liga. Ligado a mim as desventuras de uma história que nasceu como nascem as relações que verdadeiramente nos tocam.
Um sentimento de impotência e descrença invade-me com ternura nesta hora, justamente pela dor que me causa estar vivendo este momento novamente. Separar-me. Dividir-se o centro. Perder o meio. O caminho seguro das coisas breves e ternas. Voltar para o ponto onde o aprendiz de filosofo reconhece o só sei que nada sei e a rudimentar procura da felicidade em uma nova tentativa. Quem sabe o certo? Porventura nascemos nós como manual de instruções? Release e foto? É fato que não.
Não há decência em ser sozinho. Não me sinto preso, não sou de um lugar exato, fixo, rotulado. Mas queixo-me da ausência do afeto nas tardes mornas de sábado e do calor fogoso das noites de chuva. Nasci para o abraço, o toque, a sensibilidade é um largo defeito dentro de mim. No sentido superlativo da extensão, da intensidade e do grau de comoção.
Aqui estou no aterro de Iracema olhando este mar dantes navegado pela forca dos ventos e dos elementos alquímicos que me fazem acordar para o que realmente sou, um aprendiz desta jornada interior na busca de si mesmo. Guardo da relação o teu nome e o ritmo de tua voz no enfrentamento do que vivemos acerca das diferenças, das vontades e dos sonhos em horas desencontradas.
Este dia começou com um breve poema rascunhado em silêncio: Manhã infinita e melancólica/Meu jardim transfigurado/ É um retalho tosco na paisagem,/Na distancia do mar que me vê./O sal que pela pele corre/Não incorre em mudar a vida/Me ocorre de transformar os erros/Não cometer devaneios/E nem exagerar na dose,/Tolerância, paciência, amor...
E finda com uma noite imensa para recordar sentimentos e a decência de continuar viver o que me resta.