"Quanto vale ou é por quilo?", filme do diretor paranaense Sérgio Bianchi – é uma análise documental sobre os conflitos e confrontos gerados pela desigualdade social brasileira, tendo como pano de fundo uma família composta por Candinho, Clara, tia Mônica e pela personagem Arminda. Personagens estes presentes no conto “Pai contra Mãe” de Machado de Assis livremente adaptado para o nosso cotidiano pelo cineasta e apoiado pelo recurso da inserção das crônicas de Nireu Cavalcanti, do final do século XVIII, extraídas do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro presentes em forma de flash-back no filme, comparando e ilustrando o quão pouco avançamos nestes anos de construção social. Como ainda nos legitimamos nossa hipocrisia e nossa crueldade com um discurso travestido de bom mocismo.
A atualidade e a pertinência do tema nos faz refletir sobre nossas heranças culturais geradas pelo signo do preconceito, da exploração e apropriação de valores sob o discurso da solidariedade e do bem estar social. O filme apresenta um panorama social caótico, onde ficção e realidade se confundem fazendo o espectador mergulhar no imenso mar de lama que nos cerca.
O papel das ONG´S no Brasil é avaliado por três prismas: 1º A promoção que as ONG´S fazem de si mesmas, 2º A promoção da miséria que certas ONG´S fazem assumindo paternalmente a função do seu semelhante e 3º não é fazendo que alguém tenhas as mesmas oportunidades mesmo que por um momento fulgaz possa se tornar melhor.
No filme a violência dos centros urbanos é comparada em igualdade com a violência praticada pelas instituições que saem em defesa de suas contas bancárias tendo como escudo o recurso de serem portadoras das cartas de alforria dos pobres e miseráveis que vivem a mercê da própria sorte nos grandes centros. As ONG´S ao assumirem o papel social do estado acabam interferindo na construção de um verdadeiro projeto de cidadania, transformando pessoas em propriedade, escravizadas pelo lucro dos grandes projetos de “cunho social”, camufladas pelo chavões sociais de inserção no mercado de trabalho, inclusão social e cidadania.
O diretor se utiliza de inúmeros recursos para deflagrar sua arma, em sua retórica poupa bem poucos, inclusive os cineastas que até hoje se beneficiam dos recursos públicos para contarem suas histórias. É o semelhante que ele quer atingir, é para a hipócrita sociedade brasileira que apoiada na miséria de alguns se refestela na Ilha de Caras, enquanto outros sonham em ser um Big Brother e saírem do confinamento de ser apenas uma pessoa comum.
O elenco afinado com a proposta torna todos os momentos num espetáculo trágico e profundo, fazem da verdade do roteiro a sua verdade, sim os atores pensam e manifestam seu desconforto interpretando, fingindo ser aquilo que não lhes é próprio. Com uma propriedade típica de quem vive o conflito.
Um filme para se refletir, mesmo quando o diretor abusa do diretor de criticar, mas acerta quando propõe ao espectador que saia de estado habitual de conformação e reflita sobre as máximas: o quê e quem sou nesta história.
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