terça-feira, 4 de novembro de 2008

ELÃ PECÚLIO - O detetive que enxergava a alma

Primeiro Caso -
Torre de Babel (PARTE I)
Prólogo

Gritos aliados a barulho de luta corporal, ossos quebrando e corpos sendo subjugados ao chão, estatelando-se em baques secos contra o cimento de uma calçada. Foi isso que a vizinhança escutou durante a madrugada de sete de outubro de 2008 na pacata Rua Pero Vaz de Caminha. Dos poucos que se atreveram a sair, considerando o quão discretos eram os moradores daquele lugar em especial, do qual, poderíamos dizer situar-se na periferia do subúrbio, conseguiram enxergar bastante além dos que apenas afastaram a persiana, contudo, pouco ou nada entenderam da cena absurda que se desenrolava diante de seus olhos.

A ambulância estacionada mantinha sirene e motor ligados, curiosamente, dava refúgio ao motorista fardado que se escondia atrás de uma das portas traseiras, ele devia estar encarregado de fechá-las à passagem do pobre diabo, ou melhor dizendo, diaba, que vieram buscar, porém, o medo não lhe possibilitava movimento algum, apenas os olhos atônitos tentavam focalizar com a significativa dificuldade imposta pelo horror irracional que se lhe apoderava, a figura feminina que semelhante aos mais violentos demônios mitológicos, ainda rancorosos por conta da queda ao inferno, arremessava os enfermeiros mais fortes designados àquele tipo de emergência como que estes mal passassem de bonecas de trapo. Ela gritava e urrava para a escuridão celeste ao mesmo tempo em que chorava amargamente pedindo que a deixassem em paz.

De longe, o espetáculo já parecia intrigante, mas para um estranho jovem que se unira a multidão, provavelmente pelo fato de ter facilidade em identificar-se com eventos e pessoas ditas estranhas, o fato em questão, significava mais do que infortúnio de alguém, tal desventura representava a oportunidade que ele tanto desejava, mas que por comodismo ou mera preguiça, nunca se dera ao trabalho de procurar.

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